– Eu ainda não o fiz – ele falou com pesar. – É
difícil para mim, Alvo. Tente se por no meu lugar! Assim como a Murta eu tenho
meus problemas particulares. Sou, ou era, não sei, um nascido-trouxa, então
desde meus tempos como aluno eu não era super descolado. Não era fácil para eu
fazer amigos como era para Harry ou para você. Da última vez que eu estive no
Salão Principal nós estávamos em guerra. Todos temerosos e duvidosos se iriam
erguer suas varinhas e lutar ao lado de seu pai ou se iriam fugir e resguardar
sua própria segurança. Eu era menor de idade e fui ordenado a evacuar, Mas
assim como Mylor, Jaquito Peakes, Cadu Coote e muitos outros, eu decidi
desobedecer e lutar. Fui um dos poucos que morreu e sou o único que retornei
como fantasma. Tenho meu nome em um memorial de guerra e muitos acham isso um
fato de honra. Mas eu também me sinto envergonhado, Alvo. Envergonhado por não
poder estar com minha família, passar a noite na casa do meu irmão, constituir
uma família, tocar em um objeto ou poder falar com o meu sobrinho sem ser
obrigado a ter cuidado para não atravessá-lo!
– ele encarou pela primeira vez Alvo bem no fundo dos olhos, e o garoto pode
ver por entre a olhada fantasmagórica de Colin um verdadeiro sentimento de
medo. – Todos os meus amigos cresceram. Meu melhor amigo, no semestre anterior
era professor e eu sou apenas a
lembrança de um aluno. E mesmo que eu
dessa agora e ronde a mesa da Grifinória, todos serão desconhecidos para mim, e
eu mais um fantasma como tantos outros. – ele baixou a cabeça e olhou para os
pés que levitavam sob o chão. – Me desculpe por não ter cumprido a minha
promessa, Alvo. Mas ainda há tempo, mas não agora, não tão....
Colin se calou de repente. Ele arregalou os olhos
e tentou alertar Alvo, mas não houvera tempo.
Postado na porta do banheiro como um soldado que
guarda a entrada para o palácio da Família Real, lá estava Filch, com um
sorriso amarelado enchendo sua cara enrugada e de barba mal feita. Seus dentes
eram amarelos cheios de tártaro e ligeiramente tortos. Foi uma comparação muito
exagerada, mas os caninos de Filch se assemelhavam suavemente com os de Madame
Nor-r-ra, que afagava por entre suas pernas.
– Pego no flagrante, Potter – falou ele com sua
rouquidão. – Então você é o famoso vândalo dos banheiros. Eu pensava que era
aquele grupinho infernal do seu irmão, mas não, era você... Eu deveria ter
pensado nisso antes. Você se uniu a eles, Potter?
Alvo negou rapidamente em resposta.
– Não foi ele, Sr Filch – interpôs-se Colin. – Foi
a Murta-Que-Geme. Você sabe como ela é quando se descabela. Alvo não é o
culpado...
– Calado
fantasma! – resmungou Filch gozando de uma autoridade que não lhe
pertencia. – Você não é ninguém neste colégio! Não é aluno, nem professor, nem
funcionário. É um agregado – o zelador fez questão de mostrar repugnância nas
últimas palavras. – Vá se trancar em um banheiro masculino ou volte para o
memorial. Agora, você, Potter – ele coçou a barba rala do queixo pálido – venha
até minha sala.
Alvo nunca estivera na sala particular do Sr
Filch, e sabia que todos os alunos a evitavam com unhas e dentes. Agora ele
sabia porquê.
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