segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Revolta da Murta-Que-Geme, pág 18



chorou muito. Eu estava passeando por alguns tubos e canos quando ouvi seu choro, aí voltei para cá. Não deu para ver quem era, porque ele estava de capuz, e o vidro estava embaçado. Ele falava, sussurrava, mas eu não entendi o que era. Pensei que havia algo de errado com a língua dele. Foi um feitiço de Trava-Língua, com certeza. Então eu cheguei mais perto, me aproximei para falar com ele, lhe consolar.... Só que ele, argh! Ele me viu e falou que eu era uma idiota, e que não precisava de mim. Então jogou um papel amassado na minha cara e saiu correndo!”
– Você não identificou a voz? – Alvo perguntou de um jeito que não parecesse autoritário, nem que ele estivesse a interrogando, o que poderia causar mais um ataque de nervos.
– Não, a voz ainda estava sob efeito do feitiço. Estava áspera, não deu para ouvir direito.
– Então, – começou Alvo – se você não o viu, e a voz estava distorcida... Como você garante que era um garoto. Poderia ser também uma garota enfeitiçada.
– Bem, eu... Ah... Na verdade ele, eh, ela – seus olhos se encheram d’água, mas por algum motivo, nãos transbordaram.
– Viu? Tudo isso foi apenas um mal-entendido. Vai que nem era um garoto aqui.
– Eu não falei que não tinha motivo para se preocupar, Murta – falou Colin com calma. – Mas você estava nervosa...
– Eu sei, Colin. Desculpe, estava de cabeça-quente.
– Espera um minuto – Alvo olhara para os fantasmas e percebera que Colin estava mais próximo de Murta, com o braço sobre seus ombros. – Vocês estão, ah, sabem, se...
Não! – gritaram os dois em uníssono, se distanciando um do outro.
– Foi mal, mas eu pensei... Como vocês têm quase a mesma idade, e por aqui não tem mais fantasmas adolescentes...
– Que ousadia a sua! – censurou Murta.
– Desculpe, eu só pensei alto. Mas, espera, tem mais uma coisa... – Alvo desviou o olhar dos fantasmas e tentou escanear o chão encharcado do banheiro da Murta. – E esse papel que essa pessoa jogou em você? Talvez contenha alguma informação ligada a ela.
– Ah, está ali – Murta esticou o braço e apontou com o dedo. – Perto da lixeira.
Murta estava certa da localização do papel, mas ele não estava onde o fantasma da garota indicara, não tecnicamente.
Devido à avalanche provocada pela Murta, o papel todo amassado e ligeiramente picotado se desfazia conforme a correnteza da água puxava em direção ao único ralo desobstruído que restava no banheiro. Alvo deu meia dúzia de passos até chegar à lixeira próxima ao papel, mas pouco havia para se coletar de dados. A tinta escrita na folha branca, ou havia se diluído com a água ou havia se transformado em borrões arroxeados que sujavam o papel. Qualquer coisa que havia escrita naquele bilhete estava agora ilegível. Com cuidado, Alvo tentou retirar o papel da água, mas somente menos de três quartos dele vieram em sua mão.
– Sinto muito, Murta – pediu Alvo mostrando o pedaço encharcado de papel em sua mão. – Assim vai ficar mais difícil de descobrir quem veio aqui.

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