– Eu não poderia lhe dar nenhum crédito por sua
pergunta, Srtª Stern – disse King com uma cara de ligeira infelicidade, como um
consolo para a garota. – Entretanto, há um meio de provar que sua conclusão é
defeituosa e acredito que toda a turma ficará entendedora da dinâmica temporal
da aparatação e da desaparatação com tal. Ah, Srtª Panonia, teria a bondade de
se encaminhar para frente da classe?
Amélia gentilmente se levantou de sua carteira e
seguiu para o lado do professor, mirando a classe com seu olhar hipnótico e
ainda sim encantador. Alvo tentou o máximo possível desviar do olhar de Amélia.
Ele fixou os olhos em suas anotações sobre aparatação e estrunchamento,
enquanto o Prof King dava as instruções para Amélia.
– Quero que a senhorita desaparate deste ponto
demarcado pelo giz, até o outro, mais ou menos neste canto, onde está a
demarcação – o professor mirou a aluna e ergueu uma de suas sobrancelhas. – Entendido?
– Sim, senhor – garantiu Amélia. – O senhor quer
que eu repita o experimento que meus colegas já fizeram.
– De certa forma, sim, Srtª Panonia. Entrementes,
onde outrora seus colegas simplesmente desaparatavam, eu gostaria que a
senhorita aparatasse acompanhada de um objeto em especial. – King deu as costas
para a jovem e sacou sua varinha, invocando com um feitiço uma caixinha de
veludo escuro com a capacidade de abrigar um par de objetos não muito grandes.
O Prof King era conhecido na escola por seus
objetos fantásticos e mágicos. Somente na apresentação de sua sala de aula
apinhada de bugigangas, já poderia se contar os grandes globos de ferro
encantados que flutuavam pela sala, imitando os movimentos solares e
planetários, sem falar que cada um representava um número maior de áreas e
países que os globos convencionais. Também havia um aparato metálico, cheio de
espelhos e ganchos, que aparentemente recriava os astros e estrelas do cosmos,
dentro da sala de Tecnomancia, dando a grande impressão de se estar frente a
frente com um autêntico Sol e uma sólida Lua. E ainda havia o sinistro portal
Trans-Dimensional, que possibilitava uma magia avançada de poder ver ou
transportar-se, de algum modo que ninguém a não ser o Prof King sabia, para
arredores muito além do alcance da aparatação. Tal portal, evidentemente estava
protegido por uma saraivada de feitiços poderosos e protetores, para impedir
que as mentes mal-aventuradas e maléficas tomassem conta de tal objeto.
Os objetos contidos na caixinha de veludo não
eram, desta vez, inquietantes ou que superavam a imaginação humana. Eram duas
ampulhetas do tamanho de uma garrafinha pet. Sua magia, entretanto, estava
contida na areia que por ela escorria. Era uma areia colhida as margens do rio
Nilo em uma determinada e complexa data que até mesmo o Prof King evitou
comentar. Alvo só ficava pensando como seria se o Prof Buttermere estivesse
presente e desandasse a falar sobre a magia de cada grão de areia que percorre
os desertos do Egito.
– Esta areia corre
decorrente a dinâmica dos segundos, e não é afetada pela dispersão das
moléculas que formam sua estrutura – descreveu o Prof King entregando uma das
ampulhetas a Amélia e ficando com a outra e a depositando em sua mesinha de
maneira que a areia fosse impedida de escorrer. – Quando eu ordenar, Srtª
Panonia, quero que desaparate daquele ponto e venha para este ponto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário