Ashton
Bennett apareceu após conseguir a permissão da serpente para passar para o
dormitório. Ele parecia ter o coração na garganta quando entrou no recinto e
todos os olhos se voltaram para ele. Todas as conversas haviam morrido.
Certamente que o garoto se distanciara do grupo de calouros para ir ao
banheiro, pois dava para notar suas mãos pingando de água e um pedaço de papal
higiênico preso em seu tênis, o que gerou uma leva de risadinhas abafadas e
piadinhas venenosas. Ele estava distraído e desengonçado, conseguindo fazer com
que parte de suas vestes ficassem presas na tranca da passagem, e assim, com um
solavanco, ele foi puxado para trás quando a passagem se fechou, caindo sentado
no chão e fazendo o papel higiênico voar pelo recinto.
A
sala comunal se encheu de risos, que preencheram o ar por um tempo até maior do
que deveriam. As gargalhadas ficaram forçadas e irritantes. Bennett ajeitou as
vestimentas e tentou sumir da vista dos outros sonserinos, mas era impossível.
Ele olhou para os outros que lhe estudavam, ele estava muito tenso e vermelho.
–
Achei que os trouxas já sabiam como passar por portas – gritou Teseu Flint de
seu canto onde estava com seus amigos mal encarados. Alvo quase não o ouvira
falar durante o primeiro ano.
–
Não, Teseu, eles já sabem como comer com talheres – corrigiu Heth Vaisey, do
terceiro ano. – Portas possuem trancas e maçanetas, é muito complicado para
eles.
–
Por que aqui tem que ser tão assustador? – murmurou Bennett para si próprio,
mas acabou falando alto demais e deu a deixa para mais gozações.
–
Porque nossa decoração é apenas para os fortes! – gritou Tibério Nott. – Para o
nosso sangue-puro que consegue suportar a visão da morte e dessas criaturas!
Espero que goste de cabeças de elfos! Há algumas novas em seu dormitório!
–
Vai para Lufa-Lufa! – berrou uma
garota de feições finas que mais se assemelhavam a de um pterodátilo.
–
Eu só queria ir para o meu dormitório – pediu Bennett amedrontado.
–
É só seguir essas escadas – começou Lucas apontando para as verdadeiras escadas
de pedra que davam para os dormitórios – e...
–...
virar a direita, sem erro – completou Antônio Zabini. Deu para ver que ele
continha o riso.
Alvo
observou Bennett levantar sua mochila e atravessar altivamente o soalho de
pedras negras e contornos verdes, passando entre os estudantes repentinamente
silenciosos que enchiam a sala. Erminio Dingle, um aluno esnobe de óculos, mal
encarado do sétimo ano, reclinava em uma cadeira escura de encosto alto e
estofado com as pernas esticadas à sua frente, bloqueando o caminho de Bennett.
O primeiranista se deteve, esperando que Dingle se movesse. Erminio fingiu não
notar Bennett pela primeira vez. Depois ele sorriu e moveu suas pernas. Ashton
revirou os olhos e continuou andando, envergonhado.
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