O
professor meteu a chave na fechadura embaixo da maçaneta da porta e a girou;
liberando a tranca do interior da porta.
A
primeira sensação que se tinha ao entrar na nova sala de Defesa contra as Artes
das Trevas era a mesma que se tem quando se sai do banho em um dia muito quente
e instantaneamente é apresentado ao calor do verão, ou quando se coloca a cara
muito próxima do fogo ou do fogão aceso. Alvo recuou um pouco achando que voltara
a se sentir febril, mas notou que todos ao seu redor compartilhavam do mesmo
desconforto.
Não
havia mais nenhum enfeite na sala parecido com o do Prof Silvano. Nenhum objeto
de auror ou apetrechos contra as forças das trevas. No lugar dos pequenos
retratos do Prof Silvano que mostravam feitiços sendo executados contra bruxos
das trevas agora havia grandes tapeçarias de linho cor de vinho representando
bruxos e feiticeiros desenhados de lado executando encantamentos complexos e
poções poderosas. Os mostruários antigos com bisbilhoscópios e a cabeça de
gnomo empalhada deram lugar a enormes caixas com coleções e mais coleções de
grandes varinhas, que mais se assemelhavam a bastões, em forma de bumerangue ou
carapaças de escaravelhos mortos e refinados em formol. Detrás da mesa do
professor havia um mapa encantado aéreo de um deserto. Dava para ver as dunas
se formando conforme a vontade, a força e a intensidade dos ventos daquela
região. Não havia mais nada para se ver além de areia e mais areia, volta e
meia uma miniatura de um avião aparecia pelos cantos e sumia pelas beiradas.
Mesmo sendo entediante, aquele mapa era legal de se ver.
Tudo
estava muito diferente do ano passado. A sala de aula mais parecia com uma
câmara de uma antiga pirâmide milenar, (prova disso era que parte da areia
encantada do mapa escorria pelas bordas e preenchia boa parte do chão,
certamente não havia sido fácil colocar aquela peça de decoração no lugar
correto). E o calor era bem parecido com o encontrado no interior dessas
câmaras, visto que todas as janelas estavam fechadas e mal dava para sentir o
vento que uivava do lado de fora.
Alvo,
Escórpio e Rosa se adiantaram em pegar bons lugares. Eles se acomodaram na
segunda fileira de carteiras mais próxima do professor. Os três empilharam
todos os livros que o professor pedira na lista de material e esperaram em um
silêncio muito incomum, mas educado e surpreendente para o professor.
–
Boa tarde, primeiramente – disse o professor, mas sem olhar para os alunos. Ele
depositou em sua mesa uma bolsa de tira colo, como de um carteiro, que
carregava sobre o ombro. Não era lá algo muito notável ou valioso, mas pareciam
trapos remendados. Da bolsa o Prof Buttermere retirou um livro de capa dura,
umas duas notas e a lista de chamada. Ele ajeitou com a mão nodosa e com alguns
calos os cabelos quebradiços mostrando a cara ligeiramente retangular e
misteriosa e começou a chamar os alunos. A cada um que lhe chamava o interesse
ele fazia uma pausa, encarava o tal aluno com seus olhos cor de amêndoa,
umedecia os lábios e voltava com a chamada.
– Muito bem, então – falou
ele lançando a lista sobre sua mesinha e voltando-se par outra nota. – Recebi
um bilhete sobre o andamento das aulas do Prof Silvano, antes de ele ser
hospitalizado, é claro, e o balanço final das aulas do Prof Tofty, que o
substituiu, com relação a esta turma. Vocês estão bem avançados com relação aos
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