sábado, 20 de outubro de 2012

A última reunião do Sr Tavares, pág 16



Chutes, socos, pontapés, unhadas, pisadas, cotoveladas e todos os tipos de agressões físicas foram atribuídos a Pascal. Alvo fechou os olhos durante todo o tempo em que o corpo do Sr Tavares era esmurrado. Dava para ouvir o som dos punhos e dos pés dos Comensais da Morte se chocando com o corpo flácido de Pascal e também de seus ossos se quebrando irregularmente.
Quando eles pararam, filetes de sangue escorriam das narinas e uma enxurrada saíra da boca. Suas vestes foram rasgadas e ele mal conseguia se mover devido às inúmeras fraturas espalhadas por seu corpo. O olho esquerdo estava inchado assim como as bochechas, e lhe faltavam dois dentes.
– Ainda é pouco. Quebrem a varinha dele.
Mulciber rasgou ainda mais as vestes de Pascal à procura da varinha do bruxo que mais parecia um pedaço de carne exposta no açougue. Quando a encontrou, Mulciber não fez muita cerimônia antes de partir a varinha em dois pedaços quase que iguais, deixando apenas o núcleo, calda de mula-sem-cabeça, ainda ligando as duas metades da madeira de pau-brasil.
– Tenha uma péssima morte! – rogou Mulciber atribuindo a Pascal mais um chute e quebrando mais uma costela.
– Levante-o – ordenou o bruxo mais uma vez, e Mulciber e o gordo o fizeram. – Agora, encare seu fim como o pouco de dignidade que ainda lhe resta. E sofra como nunca antes.
Lentamente o Comensal da Morte de cabelos longos e de uma brancura tão acentuada que chegava a parecer que eram prateados, retirou as luvas de couro de suas mãos. Apoiou a caixa em uma das pernas e as despira com leveza. Quando tirou a da mão esquerda, Alvo teve de engolir a exclamação que iria soltar.
Sua mão era ossuda e podre, como se fosse a parte amputada de um cadáver. Suas unhas estavam pequenas e murchas e os anéis que enfeitavam seus dedos estavam frouxos e bambos nos pedaços de ossos cobertos por carne cinza que eram seus dedos.
O bruxo olhou para a mão como se aquele fosse o preço a se pagar pelo progresso. Ele não demonstrava emoções, apenas ressentimento por não poder ter combatido aquela praga de uma maneira melhor.
Com a mão ossuda ele destravou o cadeado de prata que lacrava a caixa.
– “Ruoy dlrow otni eht swod ahs” – cantou ele como uma oração de uma língua morta e amaldiçoada que ninguém mais fala.
Logo que a caixa foi aberta, um frio glacial cortou o ar fazendo com que os pulmões de Alvo rangessem e seus lábios rachassem. Seus dedos ficaram duros e quase grudaram na aba do malão que se encheu do cortante frio que emanava a caixa. O chão ficou brilhante como se estivesse repleto de diamantes, mas na verdade

Nenhum comentário:

Postar um comentário