Chutes,
socos, pontapés, unhadas, pisadas, cotoveladas e todos os tipos de agressões
físicas foram atribuídos a Pascal. Alvo fechou os olhos durante todo o tempo em
que o corpo do Sr Tavares era esmurrado. Dava para ouvir o som dos punhos e dos
pés dos Comensais da Morte se chocando com o corpo flácido de Pascal e também de
seus ossos se quebrando irregularmente.
Quando
eles pararam, filetes de sangue escorriam das narinas e uma enxurrada saíra da
boca. Suas vestes foram rasgadas e ele mal conseguia se mover devido às
inúmeras fraturas espalhadas por seu corpo. O olho esquerdo estava inchado
assim como as bochechas, e lhe faltavam dois dentes.
–
Ainda é pouco. Quebrem a varinha dele.
Mulciber
rasgou ainda mais as vestes de Pascal à procura da varinha do bruxo que mais
parecia um pedaço de carne exposta no açougue. Quando a encontrou, Mulciber não
fez muita cerimônia antes de partir a varinha em dois pedaços quase que iguais,
deixando apenas o núcleo, calda de mula-sem-cabeça, ainda ligando as duas
metades da madeira de pau-brasil.
–
Tenha uma péssima morte! – rogou Mulciber atribuindo a Pascal mais um chute e
quebrando mais uma costela.
–
Levante-o – ordenou o bruxo mais uma vez, e Mulciber e o gordo o fizeram. –
Agora, encare seu fim como o pouco de dignidade que ainda lhe resta. E sofra
como nunca antes.
Lentamente
o Comensal da Morte de cabelos longos e de uma brancura tão acentuada que
chegava a parecer que eram prateados, retirou as luvas de couro de suas mãos.
Apoiou a caixa em uma das pernas e as despira com leveza. Quando tirou a da mão
esquerda, Alvo teve de engolir a exclamação que iria soltar.
Sua
mão era ossuda e podre, como se fosse a parte amputada de um cadáver. Suas
unhas estavam pequenas e murchas e os anéis que enfeitavam seus dedos estavam
frouxos e bambos nos pedaços de ossos cobertos por carne cinza que eram seus
dedos.
O
bruxo olhou para a mão como se aquele fosse o preço a se pagar pelo progresso.
Ele não demonstrava emoções, apenas ressentimento por não poder ter combatido
aquela praga de uma maneira melhor.
Com
a mão ossuda ele destravou o cadeado de prata que lacrava a caixa.
–
“Ruoy dlrow otni eht swod ahs” –
cantou ele como uma oração de uma língua morta e amaldiçoada que ninguém mais
fala.
Logo que a caixa foi
aberta, um frio glacial cortou o ar fazendo com que os pulmões de Alvo
rangessem e seus lábios rachassem. Seus dedos ficaram duros e quase grudaram na
aba do malão que se encheu do cortante frio que emanava a caixa. O chão ficou
brilhante como se estivesse repleto de diamantes, mas na verdade
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