enquanto
ajeitava com cuidado o boné sujo dos Malandros do Rio em sua cabeça quase
careca. – Minha garota está novinha em folha, pronta para mais uma viagem. Mas
talvez tenhamos de fazer uma parada rápida em Goiânia para trocar o óleo e
encher o tanque. Tenho um amigo dono de uma oficina lá que pode nos fazer tudo
por um preço muito bom. Sem falar que tem uma lanchonete para os garotos.
–
Esse seu amigo não é aquele que lhe vendeu uma Cobra Lambe Fogo contrabandeada
há seis semestres, é? – perguntou o diretor de maneira gozadora. Caeculo não
respondeu, mas ao permitir que sua face ficasse ruborizada, não houve mais
necessidade de respostas orais. – Muito bem. Alunos: infelizmente não poderei
acompanhar vocês durante a viagem, nem estarei presente durante o jogo. Mas
vocês terão a companhia da Profª Andrade e do Prof Fagundes durante todo o dia.
Saibam que o ônibus partirá amanhã no mesmo horário que está deixando
Bruxolunga, e que as atividades serão suspensas pelo período da tarde. Boa
viagem à todos.
Quando
finalmente todos os alunos e alunas de Bruxolunga estavam embarcados no grande
ônibus de dois andares acoplados, o Prof Fagundes montou em sua cadeira de
motorista como se ela fosse um cavalo selvagem à ser domado. Com seus fortes,
porém curtos, braços de domar criaturas mágicas, ele puxou novamente a alavanca
e as portas do ônibus se fecharam com um ranger de metal enferrujado. Depois
ele rodou uma manivela que abrira lentamente os bagageiros laterais do ônibus.
Por fim ele abriu uma caixinha de vidro próxima ao velocímetro do automóvel.
Dentro dela havia um botão vermelho feroz, bem grande e redondo. E sem hesitar,
o Prof Fagundes deu um soco no botão fazendo o trem tremer.
Longas
fitas de aço em forma de asas de joaninha brotaram do bagageiro do ônibus
instantaneamente. Fora tão rápido que parecera que elas eram como moléculas de
ligas de aço se materializando no nada em questão de segundos. Depois uma lona
muito fina as envolveu sem o auxílio de ninguém. Se contorcendo contra as fitas
de aço até formarem uma enorme asa de inseto no ônibus.
O
Prof Fagundes ficou em pé em sua cadeira e arriou um microfone até seus lábios,
depois falou em alto e bom som:
–
Senhoras e senhores, aqui é seu motorista, o Prof Fagundes. Aqui vão as regras
de meu ônibus: não é permitido ficar fora de seus assentos ou andar com o
veículo em movimento. Qualquer prática de feitiços ou azarações de ataque
acarretará no confisco da varinha por tempo indeterminado. Caso tenham fome,
nosso serviço de bordo, de alguma maneira que eu ainda não pensei, lhes servirá
nossos esplendorosos sanduíches de peito de frango e atum. Vocês até podem
tentar beber algo, mas eu não aconselho. Como professor e motorista eu desejo
uma boa viagem à todos. São, hã, ponteiro grande no número dois e ponteiro
pequeno no dez.
Ao fim de seu breve e
ignorante pronunciamento, o Prof Fagundes recolheu o microfone para seu
compartimento secreto e ligou a ignição do ônibus. Mais uma
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