que ficar em silêncio de nada adiantaria, o boneco
continuou. – Por acaso sabe somar dois mais dois? Está na cara, moleque! Sou um
shabti, não é óbvio?
– Ah, sim, claro! Como eu não pensei nisso antes –
respondeu Alvo, irônico.
– Não me venha com essa, menino! Não é porque sou
feito de cera que não sei quando você está sendo sarcástico – o shabti ainda tentava reconstituir sua
face. Não ficou nada melhor, mas pelo menos não parecia mais que ele havia sido
esmagado. –O que não está claro é porque e como
você me invocou... Só o mestre deveria ser capaz de me invocar.
– E seu mestre seria Hanbal Buttermere?
– O próprio – respondeu o shabti com veemência. – Ele me esculpiu assim como todos os meus
outros dezenove irmãos. E só ele deveria ser capaz de me invocar. Onde ele
está?
– Ele está incapacitado de falar com você no
momento – Alvo tentou parecer o mais claro possível, mas aparentemente o shabti compreendeu algo completamente
diferente, pois ficou maravilhado com o que ouviu.
– Incapacitado
– repetiu ele meio bobo. – O mestre está incapacitado... Quero dizer, isso só
pode significar que ele está preso, ou se eu tiver sorte foi morto! Finalmente,
livre! A doce liberdade me aguarda! Livre! LIVRE!
Em extasie, o shabti
saltou de onde estava e começou uma empolgante corrida para sua liberdade. Alvo
sabia que não podia deixá-lo fugir. A última coisa que queria era ver o shabti descendo as escadas da sala de
aula, dando pulinhos de alegria, na frente do Prof Buttermere e de Lana.
Recorrendo a única idéia que lhe surgiu, ele apontou a varinha para o shabti e proferiu o primeiro feitiço que
lhe veio à mente:
–Diffindo!
– o feitiço invisível acertou o shabti
em menos de dois segundos. Logo depois de Alvo ter pronunciado o nome do
Feitiço do Corte, uma navalha invisível atravessou a cera do shabti decepando suas pernas e fazendo
com que seu corpo se desprendesse da base e fosse arremessado para frente.
– Que lástima! – chorou o shabti com lágrimas invisíveis. – Preso novamente. É o fim! Seu
humano desgraçado! Como teve coragem de me ferir desta maneira brutal? – o shabti rolou na mesa para encarar Alvo
com seus olhos miúdos e brancos.
– Lamento, mas você não pode sair – disse Alvo
meio arrependido do que fizera. Ele bem que poderia ter apenas agarrado do shabti com uma das mãos. – Não era a
minha intenção te deformar desta forma, mas você não deve sair por ai
berrando... Acho que seria melhor se eu... – Alvo avançou para mais perto do shabti, que entrou em pânico e começou
um exaustivo processo se arrastando pela mesa para ficar o mais longe possível
de Alvo, mas não foi possível. Como se segurasse uma folha seca, Alvo ergueu o shabti e o colocou na altura de seus
olhos, e ficou observando o boneco de cera amputado socando o ar e tentando se
livrar de seus dedos.
– Seu moleque! Não deve nem saber aparatar! Você
não é nada! Eu tenho mais magia no meu mindinho do que você inteiro!
– Eu já te amputei com apenas um feitiço ridículo
que eu consigo executar. Quer ver o que eu consigo fazer com toda a magia que
eu tenho dentro de mim? – ameaçou o menino parecendo mais intimidativo do que
pretendia.
– Ah, valentão! Quer ameaçar o shabti só porque tem as duas pernas e
mede mais de trinta centímetros de altura! – o shabti cruzou os braços e emburrou a cara.
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