– Perfeito! – a prima exclamou, pressionado os
dedos contra as alças do estojo de poções. – Nos encontre na entrada do
castelo, no Hall de Entrada, em dez minutos... Só vou guardar isso aqui e
chamar Lúcia. Talvez até penteie um pouquinho os cabelos.
– Então não quer que nos encontremos em meia hora?
– perguntou ele com uma piada.
– Bobo – Jill revirou os olhos. – Dez minutos.
E ela subiu os dois degraus que faltavam.
Havia algo de diferente em conversar com Jill do
que com os outros Weasley. Ela era pura, inocente e ingênua, mas não um tipo de
ingênua boba, mas uma dócil e gentil, que não mede esforços para encontrar a
bondade nas pessoas e estimulá-la o máximo possível. Falar com ela não era o
mesmo que falar com qualquer outro de seus primos, principalmente Fred ou Luís.
Ela era simplesmente diferente. Fazia sentido, ao ver que ela foi criada de uma
maneira bastante incomum. Dentro de um Fusca Volkswagen ou em diversas casas
alugadas por temporada, sempre na companhia de seus pais, seus tios, primos e
do tio-avô Elias e da tia-avó Elaine. Sem falar nos pais de Jill. Aquele
certamente não era o tipo convencional de casal ou de pais, daí a explicação
lógica para Jill ser tão diferente de Digory e de Douglas, principalmente
Douglas.
E ainda tinha Lúcia. Uma garota que também possuía
algo de diferente dos demais que até hoje Alvo não sabe dizer o que é. Fosse
sua compreensão desigual de como era o mundo, fosse por sua vida ser tão ligada
a de seus pais. Mas sem sombra de dúvidas, Lúcia era uma das primas favoritas
de Alvo (Rosa estava em primeiro lugar), e ele tinha a notória impressão de que
ela era a prima favorita de todos os outros primos.
Passados os dez minutos, Alvo, Jill e Lúcia começaram
a passear levianamente, sem se importar com o trajeto que percorriam. Eles
passaram pelo Salão Principal a passos largos, e Alvo teve o cuidado de espiar
para ver se Erico ou Ashton estavam por perto. Desceram pelo caminho que ele
havia tomado a pouco e começaram a circular ao redor da base do castelo.
Caminharam uns quilômetros até a cabana de Hagrid que se mostrava fria e
apagada. Lúcia se colocou nas pontas dos pés para tentar ver além dos buracos
das cortinas surradas feitas em emendas de algumas toalhas de mesa. Segundo ela
não havia nenhum movimento no interior da cabana, o que fez Alvo pensar que
Hagrid estava metido dentro da Floresta Negra, mas após ouvirem o latido de
Rolino e um longo pigarro de proporções gigantescas eles encontraram o guardião
das chaves de Hogwarts atrás da casa, polindo uma espécie de guizo gigante que
mais parecia um sino de procissões.
– Boa tarde para vocês – disse Hagrid passando o
pano encharcado no guizo. Suas mãos enormes estavam sujas de graxa assim como o
pano, que certamente não havia sido tecido na cor preta. – O que fazem por aqui
à uma hora dessas? Já e final de tarde, achei que já estavam jantando.
– Ainda falta um pouquinho para o jantar – falou
Alvo tentando não pensar na razão que levava Hagrid a possuir um guizo daquele
tamanho. – Queríamos só dar um passeio, respirar um ar puro.
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