Monomon o encarou, mas rapidamente voltou para o sangue. Seu dedo espichado passou pelo líquido avermelhado, fazendo com que boa parte do sangue escorresse para o dedo do professor. Sem rodeios Monomon levou o dedo ensangüentado a boca. Seus lábios se contraiam e relaxavam conforme o sangue com gosto de ferro tomava a superfície de sua língua. Um sorriso tomou seu rosto, mas não era seu costumeiro sorriso maroto, mas sim um sorriso excêntrico, medonho e até um pouco maquiavélico. Seus dentes sujos de sangue ficaram expostos conforme o professor soltava uma abafada gargalhada sinistra.
– Algo de errado, senhor? – insistiu Alvo com o dedo latejando.
– Ah, o quê? – Monomon parecia ter despertado de seu sono maquiavelista. Os olhos piscaram normalmente e o brilho em seu olhar desapareceu como água em chapa quente. – Eh, fique tranqüilo, Alvo. Não infeccionou. Apenas coloque essa atadura para não se sujar de sangue e, ai sim, infeccionar.
Monomon lançou outro sorriso à Alvo. Desta vez não fora seu sorriso maroto e felizmente também não foi seu maligno, mas sim um sorriso tenso e nervoso. Como se as coisas houvessem saído de seu controle, mas que com alguns pequenos ajustes podia voltar à normalidade. O professor de Aula das Corujas deu um tapinha na mão de Alvo e pediu que ele voltasse a sua carteira. O Prof Monomon se ergueu de sua cadeira (agora sem seus exorbitantes óculos) e voltou a falar com a turma sobre as melhores maneiras de se escovar o bico de uma coruja.
Alvo voltou para seu lugar sobre o olhar curioso de Rosa e Escórpio. A mão esquerda segurava o dedo direito que ainda latejava. Era assim que seu pai se sentia quando a cicatriz formigava? Aquela incomum sensação de que algo estava errado dominado seus pensamentos tão rapidamente era muito incômoda e Alvo não estava acostumado em ter tantos pensamentos conturbadores rondando seu cérebro. Por que o Prof Monomon ficara tão feliz e interessado quando levou o sangue de Alvo aos lábios? Com certeza não era por sua secreta fascinação por gosto de ferro. Também não era provável que o professor fosse meio vampiro ou que adorasse os antigos pirulitos sabor sangue da Dedosdemel. E qual era daquele sorriso macabro? Alvo imaginara que o professor era um homem legal que gostava de interagir com os alunos apenas como amigos, bem diferente de Snape.
Ainda com aquela incômoda imagem do professor soltando sua malévola gargalhada exibindo seus dentes sujos de sangue, utilizando aqueles enormes óculos e com a nauseante sensação de que as coisas estavam prestes a tomar um rumo nada amigável, Alvo se voltou para Artie que para de piar inquietamente. A coruja bicou levemente seu polegar esquerdo como se pedisse desculpas.
Bastante temeroso e apreensivo, Alvo voltou a prestar atenção no Prof Monomon e em suas explicações sobre os bons tratos com relação às corujas. Algumas palavras do Patrono morcego e da dríade voltaram a sua cabeça, assim como a expressão de felicidade e o brilho nos olhos do professor de Aula das Corujas. Alvo voltou a escrever em seu pergaminho, seu dedo ainda latejava.
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