O salão onde Alvo entrou era bem maior do que ele
imaginava, embora a névoa de seu sonho não o deixava prestar mais atenção aos
detalhes daquela construção, ele sabia que estava em um lugar proibido onde
outrora bruxos das trevas já haviam passado. Por entre o barulho de seus passos
ecoando pela parte seca da instalação, ele tentava observar mais atentamente
por onde passava, mas aparentemente apenas por onde ele passava não havia
névoa, e assim que ele se adiantava, a névoa cobria a parte anterior. Chegando
ao seu destino, o corpo – ou Alvo mesmo – parou na borda de um lago de águas
verdes e escuras, onde ele não via nada além do reflexo dele próprio. Após uns
instantes olhando com mais atenção para o reflexo ele percebeu que não era ele
que a água mostrava.
O dono do corpo que estava naquele salão era maior
do que o dele, Alvo não sabia dizer o quanto maior era, mas só de saber que
aquele não era ele encheu seu coração de alívio. Minutos depois mais dois
rostos surgiram por entre as águas túrgidas. Enquanto uma massa negra boiava de
um lado para o outro, o rosto de um casal fantasmagórico aparecia na água. Alvo
teve certeza de que já havia visto um dos rostos antes, ou uma feição muito
similar, mas não pode afirmar se era o homem ou a mulher.
– Papai
– disse ele com a mesma voz sinistra. – Mamãe.
Os rostos continuaram a tremular na água, mas sem esboçar nenhuma reação.
Continuavam inexpressivos e tristes. Sem nenhum aviso, o corpo tombou no chão e
por pouco não acabou caindo na água suja. Ainda sim, o homem e a mulher de
aparências joviais continuavam duros como mármore.
– Por que vocês tiveram de ser levados tão cedo? –
a voz agora era normal, mas abafada, como se além de um capuz houvesse um pano
tampando a boca da pessoa. – Mas logo voltaremos a nos ver. Estejam certos
disso! Eu farei tudo o que for necessário para vingar as injustiças que
recaíram sobre vocês!
Neste momento, o lago começou a borbulhar, mas nem
por isso o bruxo pareceu se abalar. Irritado ficou quando os rostos do homem e
da mulher desapareceram, e das profundezas do lago verde um brilho da mesma cor
começou a ganhar força. Aos poucos ele foi se espalhando pela água até ofuscar
ligeiramente os olhos do bruxo.
– A maldição
será desfeita – disse uma voz que Alvo tinha certeza que vinha das
profundezas do lago. – Está se saindo
melhor do que esperávamos, mesmo que seu objetivo não tenha sido cumprido.
– O que?! – ira e ódio se apoderaram de Alvo como
se ele sentisse dor, uma dor agonizante que se espalhava por seu corpo com
extrema rapidez. – Fiz exatamente o que me mandou fazer! Já era para mais da
metade do processo estar pronto, você disse que eles estariam de volta pouco
depois que o ataque fosse concluído e agora me diz que o objetivo não foi
cumprido...
– Não aconteceu como imaginávamos. Você se mostrou além de nossas
expectativas durante e após o ataque, mesmo considerando seu estado atual. Já
testou a pedra como parte do ataque, mas como já deveria saber, o rito final
que comprovará seu verdadeiro poder e seu merecimento para tal ainda demorará
um pouco para ocorrer. Não foi o suficiente. Agora, você tem que ficar alerta
aos próximos acontecimentos e se preparar para o pior. Esqueça os amigos e se
exclua, mas não faça isso de maneira às pessoas notarem sua mudança. Fique mais
aqui do que lá e aproveite para aperfeiçoar o que ainda não está perfeito.
Lembre-se que a dor
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