Desta forma Alvo pode relaxar e aproveitar o
banquete daquela noite como talvez não fizesse há algum tempo. Sua preocupação
em como entrar na Sala Precisa e os deveres e novas matérias que ele aprendia
com o decorrer das semanas o estavam deixando mais tenso com relação ao fato de
ter de se lembrar de tudo aquilo para os Exames Finais. Aproveitando os bons
ares que eram trazidos para Hogwarts junto com os primeiros flocos de neve que
desciam dos céus, Alvo ansiava por uma boa noite de sono, aonde ele iria se
enroscar o máximo possível em seus cobertores e dormir em um sono tão profundo
que nem mesmo os roncos de Isaac poderiam acordá-lo.
Porém, não foi isso o que aconteceu.
Desde que Yaxley havia sido preso em Azkaban e a
ligação entre o patrono morcego do bruxo e a mente de Alvo havia sido rompida,
o menino havia tido uma quantidade mínima de pesadelos, nada muito além dele
sonhar que chegava à classe do Prof King apenas com as roupas de baixo ou dele
perdendo um jogo de Quadribol. Mas naquela noite foi diferente.
Foi como um de seus típicos sonhos bizarros, mas
durante muitos momentos, aquele sonho parecia tão real, que Alvo não sabia se
era realmente uma ilusão de sua mente ou a realidade. Por diversas vezes ele se
confundia com as pessoas que via. Era tão real que parecia que ele havia se
tornado outra pessoa.
Caminhando por corredores escuros, Alvo sentia seu
corpo ser levado para uma câmara cinzenta e úmida, onde ele se perdia por um
caleidoscópio de reflexos dele próprio. Mas não era ele quem ele via, por mais
que fosse ele quem andava pela câmara. Alvo não conseguia distinguir as feições
dele próprio, mas sentia seu rosto ser oculto por sombras, e um tecido cobrir
seus cabelos. Certamente, quem quer que ele fosse não gostaria de ser
identificado.
Em seguida ele falou. Falou de uma maneira
sinistra que não se dava para entender, uma voz meio aguda, mas ressonante, que
não dava para identificar se era de homem ou de mulher. Mesmo sendo ele a
falar, Alvo não entendera tudo o que dizia, parecia uma língua antiga, muito
sinistra. Ainda sem entender exatamente o que dizia, Alvo identificou as
palavras “liberar”, “passagem” e “agora” ditas por ele mesmo na língua
estranha. Logo após se calar, ele sentiu seu corpo ser puxado para baixo, como
um escorrega infinito que o puxava para dentro da escuridão.
Após o que pareceu ser quase a metade de uma hora,
Alvo aterrissou em um pavimento negro e subterrâneo, parecido com um esgoto. A
cada passo que dava por uma superfície plana e regular, Alvo ouvia seus passos
serem abafados por uma quantidade rasa de água negra que sujava o que quer que
estivesse calçando. Inteiramente imerso na escuridão, Alvo era desejoso por
alguma luz para clarear o caminho que deveria seguir. Como se seu desejo
tivesse sido ouvido, o dono do corpo que Alvo hospedava retirou das vestes sua
varinha e disse em um sussurro:
– Lumus.
A varinha acendeu em uma luz verde e espectral,
revelando o que estava ao redor do bruxo. Um salão de colunas compridas se
erguia por entre um corredor enevoado, sujo, úmido e frio. Aquele certamente
era um lugar esquecido onde até mesmo os animais que gostam do escuro e da
umidade evitavam. Não havia sinal de nenhum ser vivo, a não ser dele que
caminhava pelo corredor semi-alargado.
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