terça-feira, 19 de junho de 2012

Trancabola, pág 1


Capítulo Quatro
Trancabola
O
 restante do dia em Bruxolunga fora divino. Alvo assistira aos alunos do primeiro ano da escola a terem sua aula de Educação Voadora sob os olhares perfeccionista de Madame Fernandes, que não podia ver um aluno redigindo mal sua vassoura sem soar seu apito e voar para corrigi-lo. Pedro Bellinaso tinha razão quando dissera que a instrutora de vôo era a melhor bruxa a dominar uma vassoura como a da marca Papagaio de Prata. Mesmo de longe dava para se ver que aquela era uma vassoura de baixa qualidade, que talvez fosse superada até pela velha, mas bem conservada, Nimbus 2000 de Ted Lupin. Madame Rodrigues aperfeiçoara sua vassoura com uma longa fita amarela e um laço bem fofo e feminino no cabo, e que balançava eloquentemente para os lados conforme a professora cortava o vento em linhas inclinadas ou horizontais.
A maioria dos alunos utilizava vassouras mistas que chegavam a Araras Azuis e que passavam por Cleansweep Seis e Onze. A preferência dos alunos também era majoritária. Quase setenta por cento dos alunos treinava Trancabola durante o tempo da aula, mas os trinta por cento que escolhiam o quadribol mostravam que a habilidade do esporte já aflorava em sua pele. Alvo temera que os jogadores profissionais da seleção brasileira fossem tão bons quanto os primeiranistas que já demonstravam grande destreza no esporte. Caso fossem, seria um dificílimo jogo para a Inglaterra. 
Alvo não entendeu muito bem a dinâmica do trancabola durante o treino dos primeiranistas. Não entendia por que alguns recebiam Azarações Ferreteantes dos outros alunos quando eles ficavam muito tempo com a posse de um estranho tipo de goles. Também não sabia para que serviam as enormes bacias de madeira em forma de ofurô colocadas nas extremidades do campo designado ao trancabola.
– Não dá para ter uma noção exata do jogo quando se está nos treinos. Principalmente nos do primeiro ano – mostrou Pedro quando um garoto franzinho lançou a bola para dentro da bacia e se mostrou muito alegre com o feito. – A goles não explode, as bacias não representam com exatidão o que deveriam ser... É uma droga.
Ainda sem saber como era exatamente o Trancabola, Alvo deixou o campo na companhia de seus irmãos, de seus primos e de Pedro Bellinaso quando o sol começou a se por e o céu tornou-se por completo laranja-avermelhado. Ao passar pela Lagoa de Prata, Alvo pode ver um homenzinho bem trajado com roupas formais correr em passos largos e cautelosos para dentro da Floresta Sagrada. Alvo imaginou se ele seria um estudante tentando burlar alguma regra da escola ou mais uma criatura de nome estranho que Pedro não mencionara.      

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